sábado, 20 de março de 2010

Livro cria um bate-papo com Darwin ao redor de um cafezinho



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Livro apresenta um dos cientistas mais controversos de todos os tempos

O naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809-1882) entrou para a história como o pai do evolucionismo, explicação mais aceita até hoje pela comunidade científica.


"A Origem das Espécies", o notório "livro que abalou o mundo" escrito pelo cientista, lançou os fundamentos da teoria que revolucionou a história da ciência.

Esse livro tem mais de 150 anos e o cientista morreu há mais de um século. Mas, como seria saber, do próprio Darwin, como foi sua vida e o que pensava sobre suas descobertas?

A coleção "Um Café Com" traz uma proposta inovadora, na qual especialistas em diversos assuntos são convidados para escrever biografias ficcionais de grandes personalidades.

No livro "Um Café com Darwin", edição com prefácio de Richard Dawkins, além de um breve perfil, os autores criam uma conversa imaginária Darwin ao redor de um cafezinho.

O bate-papo segue por 11 temas, as perguntas do entrevistador estão em itálico. Leia, abaixo, um trecho do livro no qual "Darwin" conta sobre seus problemas de saúde e os tratamentos que era submetido.

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Bom-dia, Sr. Darwin. Espero que esteja bem.

Muito bem, grato. Parece que fui trazido de volta à vida sem todas as indisposições que me atingiram a maior parte do tempo em que estive vivo. Não me sinto tão bem desde as minhas cavalgadas com os gaúchos durante minhas explorações pela América do Sul.

Depois de retornar para casa, da viagem do Beagle, no entanto, alguns problemas de saúde começaram a me dificultar a vida. Sempre sofri de algumas palpitações no coração, mas, alguns anos após minha volta, elas se tornaram piores e passaram a ser seguidas de dores de cabeça, náuseas e vômitos constantes. Os médicos pareciam não ter uma ideia muito clara das causas. A única coisa que funcionou, pelo menos por algum tempo, foi a cura pela água.

Como funcionava?

Eu ia até um centro de reabilitação hidroterápico, por exemplo o do Dr. James Gully, na serra, em Malvern, onde tomava banhos frios e era enrolado com panos molhados por horas. Esperava-se que isso leimpasse o sistema daquilo que estivesse perturbando. Parecia que me fazia bem, de vez em quando.

Parece que tanto as enfermidades quanto a cura devem ter interferido bastante em seu trabalho.

Claro. Já que eu só podia trabalhar por algumas horas ao dia, tinha de preservar por um longo tempo nos meus projetos. "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura", era o meu ditado. Eu não podia me expor a nenhuma agitação, por isso tive de abandonar minha vida pública na comunidade científica.

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"Um Café com Darwin"
Autor: Peter J. Bowler
Editora: Arx
Páginas: 144
Quanto: R$ 19,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

quarta-feira, 17 de março de 2010

Aprender a cozinhar nos tornou homens, diz antropólogo em livro que contesta Darwin


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Antropólogo fala do controle do fogo na evolução da espécie humana


Considerado um dos dez melhores livros de 2009 por especialistas do "New York Times" e "Economist", "Pegando Fogo" (Jorge Zahar) propõe uma tese retumbante e desafiadora: a de que os homens só passaram a se diferenciar dos antepassados primatas quando começaram a cozinhar.

Para defender esse ponto de vista, o antropólogo biológico norte-americano Richard Wrangham obtém informações retiradas de assuntos diversos, como a teoria da evolução, a divisão de tarefas entre os sexos, a culinária e até mesmos temas como dietas e emagrecimento. Para o autor, ao contrário do que disse Darwin, passamos a cozinhar antes de nos tornar homens.

Essa "hipótese do cozimento" afirma que um antepassado imediato do homo sapiens, o homo erectus, dominou o fogo e o cozimento há cerca de 1,8 milhão de anos, permitindo que tivéssemos acesso tanto a nutrientes quanto a hábitos que nos mudariam para sempre.

Para ilustrar o tema, histórias de sobreviventes na selva e no mar, do cotidiano alimentar de esquimós e índios brasileiros, além da experiência do próprio autor, que entrou no território selvagem dos chimpanzés para viver com eles e, sobretudo, comer exatamente o que eles comer.

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"Pegando Fogo"
Autor: Richard Wrangham
Editora: Jorge Zahar
Páginas: 232
Quanto: R$ 34
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

domingo, 7 de março de 2010

Criacionistas e negacionistas do clima têm discursos similares

Uma lei que acaba de ser aprovada pela assembleia da Dakota do Sul (Meio-Oeste dos EUA) faz recomendações para o ensino de ciências nas escolas públicas estaduais, advertindo "isso é uma teoria, não um fato científico comprovado" e pedindo a apresentação "equilibrada e objetiva" dos dados.

Errou quem está achando que a lei versa sobre a teoria da evolução. O tema dela é o ensino do aquecimento global.

A semelhança de palavras-chave está longe de ser mera coincidência. A lei da Dakota do Sul parece apenas tomar de empréstimo a retórica dos criacionistas americanos e aplicá-la a mais uma questão polêmica, mas outros Estados americanos, como Texas, Louisiana, Oklahoma e Kentucky, também aprovaram ou discutiram legislação que cita, lado a lado, a teoria da evolução e as mudanças climáticas como assuntos que os professores deveriam explorar como controversos ou em aberto.

Há uma convergência ao menos parcial de interesses entre criacionistas e céticos do clima (como são chamados os que negam o aquecimento global ou, ao menos, a contribuição majoritária do homem para o fenômeno).

Esse é o perfil, por exemplo, do senador James Inhofe (Partido Republicano de Oklahoma), ou dos membros do Discovery Institute, a organização americana que é a principal proponente do chamado design inteligente, versão repaginada do criacionismo.

Mas não se trata de um fenômeno restrito aos EUA. O representante do design inteligente no Brasil, Enézio de Almeida Filho, já se declarou com frequência um cético da mudança climática causada pelo homem em seu blog, "Desafiando a Nomenklatura Científica".

Cristãos criacionistas brasileiros, como o adventista Michelson Borges, editor da Casa Publicadora Brasileira e mantenedor do blog Criacionismo.com.br, reconhecem a aproximação entre os dois campos. "A convergência se dá simplesmente pelo fato de que os criacionistas, no esforço por se pautarem por pesquisas fidedignas e dados concretos, deram-se conta, já há algum tempo, de que estava havendo certo exagero na questão do aquecimento antropogenicamente causado", afirma ele.

Joshua Rosenau, do Centro Nacional para Educação Científica dos EUA, lembra que os dados mais recentes sobre as atitudes da população americana em relação à ciência indicam uma proximidade estatística entre criacionistas e céticos da mudança climática.

"A correlação não é imensa, mas também não é trivial", contou ele à Folha. "A aceitação do aquecimento global [causado pelo homem] é de duas a três vezes mais comum entre as pessoas que também aceitam a evolução. Por outro lado, entre os criacionistas, o número de pessoas que aceita o aquecimento é mais ou menos igual ao das que o negam", diz Rosenau, citando levantamento feita no ano passado pelo Centro de Pesquisas Pew com cerca de 2.000 americanos.

Astros e chifres

A linguagem do projeto de lei original da Dakota do Sul (o qual, a rigor, não estabelece sanções, mas apenas faz recomendações aos professores) leva qualquer um a se sentir tentado a atribuir a aliança entre céticos do clima e criacionistas à ignorância compartilhada.

O texto falava da "variedade de dinâmicas climatológicas, meteorológicas, astrológicas, termológicas e ecológicas que podem efetuar [sic] os fenômenos mundiais do clima" e usava a criação de vacas leiteiras na Groenlândia medieval como exemplo dos benefícios de um planeta mais quente. Tanto a astrologia quanto os bovinos sumiram do texto final.

A parceria entre criacionistas e céticos do clima se fortalece num momento político complicado para a ciência climática. Uma série de deslizes na maneira como foi produzido o último relatório do IPCC, o painel do clima da ONU, foram usados para turbinar o descrédito contra as conclusões dos pesquisadores no começo deste ano.

Também não ajudou o vazamento de uma série de e-mails trocados entre climatologistas, roubados dos servidores da Universidade de East Anglia, que os céticos do clima interpretaram como indícios de maquiagem dos dados sobre o aquecimento global.

As acusações foram rebatidas, em grande medida, mas sua divulgação tem ajudado a direita americana a encurralar o governo Obama em suas tentativas de aprovar leis capazes de limitar a emissão de gases do efeito estufa nos EUA.

Afinidades eletivas

As afinidades entre criacionistas e negacionistas do clima são complexas. Em parte, há a coincidência ideológica e social, já que ambos os grupos estão associados à direita de inspiração religiosa.

Alguns criacionistas, como Borges, têm reservas teológicas em relação ao movimento ambientalista associado ao combate à mudança climática global (leia entrevista à direita). E há, claro, o casamento de interesses econômicos.

"Dos negacionistas do aquecimento global, a maioria é motivada principalmente pelos negócios e pela política. Um número chocante de pessoas parece se opor à ideia porque não gostam de Al Gore. Muitos trabalham em empresas petrolíferas ou pertencem a indústrias que teriam de pagar pela mitigação do aquecimento", diz Rosenau. "Então, creio que é uma aliança entre conservadores religiosos e conservadores econômicos. Descobriram táticas que funcionam e compartilham-nas livremente."

Para Sandro de Souza, biólogo do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer que abordou o movimento criacionista em seu livro "A Goleada de Darwin" (Editora Record), é mais fácil imaginar qual é o interesse político de criacionistas em apoiar o negacionismo climático. "É uma maneira de colocar as coisas no mesmo saco. Os criacionistas diriam: "Vocês viram como eles [os climatologistas] colocaram a ideologia na frente da ciência".

"Ora, assim como a ideologia contaminou o clima, também poderia contaminar a teoria da evolução. Seria uma espécie de prova de princípio para eles", exemplifica o biólogo brasileiro.

"Os criacionistas apoiam qualquer crítica do status quo científico porque acreditam que isso favorece seu argumento central: não aceitar as conclusões dos cientistas. Sobreposições culturais e sociais entre criacionistas e negacionistas existem, mas estão longe de serem precisas. Muitos negacionistas não apoiam o criacionismo", adverte Francisco Ayala, ex-frade dominicano e biólogo da Universidade da Califórnia em Irvine que acompanha de perto os debates sobre a teoria da evolução nos EUA.

Exemplo disso é Richard Lindzen, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), o qual, em suas apresentações, ironizou os próprios climatologistas que defendem o aquecimento global causado pelo homem comparando-os aos defensores do design inteligente.

Rosenau também lembra que nem todos os criacionistas aderiram ao campo negacionista. "Cristãos teologicamente mais liberais, que podem acreditar na criação divina mas não desejam que ela seja ensinada nas escolas, tendem a simpatizar com o movimento do Cuidado com a Criação [movimento ambientalista evangélico], e a aceitar o fato do aquecimento global justamente porque acreditam que Deus lhes deu o domínio sobre a Terra", afirma.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Como uma espécie de lagartixa sem pai consegue manter sua diversidade genética

Por Henry Fountain

Há mais de 40 anos, Bill Neaves era um jovem estudante de doutorado, que desvendou o aparecimento de uma espécie assexuada de lagartixa da família Teiidae, composta apenas por fêmeas. Ele descobriu que a lagartixa era um cruzamento entre a fêmea de uma espécie e o macho de outra.

Porém, o que o intrigava por muitos anos era como esta espécie composta apenas por fêmeas podia ser capaz de manter um alto nível de variação genética, uma contribuição para a adaptação evolutiva que normalmente ocorre através da reprodução sexuada.

Apesar de se reproduzir sem um parceiro macho, esta espécie de lagartixa tem uma forte presença na natureza. Aracely Lutes, estudante de graduação do Instituto Stowers de Pesquisa Médica, em Kansas City, no estado de Missouri, onde Neaves trabalha, descobriu a peça que faltava no quebra-cabeça. As descobertas foram publicadas na revista Nature do último domingo.

Em uma espécie de lagartixa de reprodução sexuada, cada lagartixa possui 23 cromossomos por parte da mãe e 23 por parte do pai.

Durante a reprodução na espécie só de fêmeas, Lutes descobriu que os 46 cromossomos da mãe são duplicados, resultando em 92 cromossomos para cada célula ovo.

Esses cromossomos formam pares com suas cópias idênticas e, após duas divisões celulares, um ovo maduro de 46 cromossomos é produzido. Uma vez que o cruzamento durante as divisões celulares ocorre somente entre pares de cromossomos idênticos, a lagartixa que se desenvolve a partir do ovo não fertilizado será idêntica à sua mãe.

É importante ressaltar que cada nova lagartixa também é uma réplica da original. Como a lagartixa original era diferente geneticamente, com os cromossomos herdados de duas espécies diferentes, o mesmo acontece com seus descendentes idênticos.

É por isso que esta espécie sobrevive há várias gerações. No entanto, ao contrário das espécies que se reproduzem sexualmente, “estas lagartixas provavelmente não evoluirão para uma espécie mais forte”, esclarece Neaves.

Elas “podem se adaptar bem nos desertos do sudoeste (norte-americano), mas quando a próxima era do gelo chegar, é provável que sejam extintas”, diz ele.


* do UOL Ciência