sexta-feira, 26 de junho de 2015

As formigas prateadas capazes de resistir a temperaturas de 70ºC

 
  • Divulgação BBC
    Formigas do deserto são capazes de sobreviver a temperaturas superiores a 70°C Formigas do deserto são capazes de sobreviver a temperaturas superiores a 70°C
À primeira vista, elas parecem gotas de mercúrio deslizando lentamente sobre a areia.

Mas esses pontos pequenos e brilhantes que podem ser vistos nas horas mais quentes no deserto do Saara são, na realidade, formigas prateadas.

E o que elas estão fazendo passeando pelas dunas no momento em que os raios de sol estão tão fortes que fazem a temperatura do solo de areia chegar aos 70°C?

Saem para buscar alimentos. E fazem isso precisamente nessas horas para evitar o ataque de predadores.

Insetos assim não costumam sobreviver quando a temperatura corporal supera os 53,6 °C, mas essas formigas conseguem se manter vivas graças a um mecanismo engenhoso que permite que elas permaneçam 'frescas', como descobriu uma equipe internacional de cientistas. O resultado da investigação foi publicado na revista científica Science.

Pelos

O segredo, explicam os cientistas, está na estrutura e organização singular dos pelos das formigas, que permite que elas controlem o espectro solar e reduzam sua temperatura corporal.

Por um lado, o revestimento prateado dos pelos serve para refletir os raios de sol para fora.

E por outro, essa cobertura ajuda a formiga na hora de disseminar seu próprio calor interno para o ar mais fresco que a rodeia.

"Nos demos conta que esses efeitos se ajudam entre si", analisou Nanfang Yu, professor de Física Aplicada da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e autor principal do estudo.

Formiga prateada do Saara 'se adaptou' ao ambiente para sobreviver, dizem cientistas

A combinação desses processos faz com que a temperatura da formiga prateada do Saara não supere os 50°C.

Os pelos dessas formigas têm uma forma triangular. Em vez de crescer para cima, no momento que alcançam certa altura, giram a um ângulo de 90° para ficar numa posição paralela à pele.

O espaço gerado entre o pelo e a pele facilita o processo de refrigeração.

Inspiração

Na opinião de Yu, "esse é um exemplo claro de como a evolução estimulou a adaptação de atributos físicos para que possam cumprir uma função fisiológica que garantisse a sobrevivência. Nesse caso, evitar que as formigas prateadas do Saara ficassem mais quentes do que podiam."

Os cientistas acreditam que esse conhecimento pode ser aplicado para desenhar superfícies de refrigeração para veículos, edifícios, instrumentos e roupa.

O próximo passo será estender o estudo a outros animais e organismos que habitam ambientes extremos para analisar que tipo de estratégias essas criaturas adotam para viver em condições tão adversas.

"Conhecer e entender o conceito desses projetos naturais aprofunda nossa compreensão dos sistemas biológico complexos e nos inspira para criar tecnologias novas", conclui o investigador.

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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Cientistas encontram parte do cérebro que explica por que papagaios "falam"
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Do UOL, em São Paulo
  • EFE
Ouvir um papagaio repetir nossas palavras é sempre divertido. Mas quem nunca se perguntou como essas aves conseguem tal feito? Neurologistas da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), não só questionaram isso, como localizaram os neurônios que explicam como essas aves se tornaram ótimos cantores e imitadores.
A descoberta deve ajudar a entender de forma mais detalhada a origem do pássaro e lançar luz sobre como essas áreas do cérebro surgiram durante a evolução da espécie. O estudo foi divulgado nesta semana na revista "Science".
Um grupo de neurônios interconectados no cérebro dos pássaros permite que eles emitam sons semelhantes a músicas quando eles piam. Ele se localiza em um núcleo cerebral cujos limites ainda não são totalmente conhecidos pelos cientistas. Possíveis diferenças desse núcleo indicam a capacidade de emitir sons mais complexos entre uma espécie e outra. Estaria aí a chave para o papagaio ser mais falastrão.
O neurobiólogo Erich Jarvis, da Universidade Duke, estava estudando a ativação de um gene -- o PVALB, geralmente encontrado no cérebro de pássaros que cantam -- no cérebro dos papagaios quando notou algo estranho.
Ao analisar o cérebro de um papagaio, Jarvis observou que o gene estava ligado em níveis distintos em duas regiões diferentes das quais ele pensava ser os núcleos cerebrais correspondentes ao canto das aves.
"Fiquei surpreso", diz Jarvis. "Eu acho que cérebros de pássaros são definitivamente pouco estudados, mas já foram estudados o suficiente para que reconhecêssemos esta região antes", afirmou.
A mesma constatação foi feita ao estudar nove diferentes espécies de papagaios, que também mostraram diferenças significativas dentro de cérebro comparado aos beija-flores.

Evolução

Jarvis suspeita que as diferenças sejam fruto da evolução das funções cerebrais dos papagaios. Se esta hipótese for verdadeira, estudos futuros poderão explicar áreas complexas do cérebro em outros animais e até em humanos que expliquem a emissão de sons.
Jarvis diz que ele e seus colegas estão planejando mais estudos para testar se essa região do cérebro é de fato o que permite que os papagaios consigam imitar tão bem vários sons, já que até agora eles mostraram a correlação, mas não a causa.
"Eu acho que nós encontramos o que explica que os papagaios tenham melhor capacidade de imitação do que outras espécies de expressão vocal, e é por causa desta região do cérebro", diz ele. "Mas precisaremos de mais estudos para validar isso", conclui.

Papagaio canta o hino do Corinthians


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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Chimpanzés têm habilidades para a cozinha, mostra estudo

Agência EFE
  • Agência Reuters
    Chimpanzés possuem habilidades mentais necessárias para cozinhar - Foto: Agência Reuters
    Chimpanzés possuem habilidades mentais necessárias para cozinhar
Um gosto pela cozido, uma dose de paciência, discernimento, capacidade de prever: os chimpanzés possuem certas habilidades cognitivas necessárias para cozinhar - garante um estudo científico baseado em experiências publicado nesta quarta-feira, 3.
"Se nosso parente mais próximo tem essas habilidades, podemos pensar que, quando os primeiros homens foram capazes de dominar o fogo, eles foram capazes de começar a cozinhar", considera Felix Warneken, do departamento de Psicologia da universidade norte-americana de Harvard, um dos autores do estudo.
"Obviamente, os chimpanzés não dominavam o fogo", aponta Alexandra Rosati, da Universidade de Yale, outra psicóloga participante da pesquisa publicada na revista Proceedings B, da Royal Society. "Mas estamos interessados em outros aspectos, tais como a capacidade de compreender que, se você colocar o alimento cru no fogo, você tem alimentos cozidos", diz ela em um comunicado.
Hoje em dia, cozinhar parece simples: basta acender o fogão e ir embora. Mas para os primeiros homens, que se alimentavam em parte de tubérculos, foi necessário mobilizar importantes percepções cognitivas para perceber que cozinhar alimentos era melhor e tornava a digestão mais fácil.
O cozimento de alimentos pode ter desempenhado um papel-chave na evolução humana tornando o alimento mais assimilável e permitindo que os seres humanos tirassem o máximo de proveito da comida, um elemento fundamental para o cérebro.
Os dois cientistas foram para a República do Congo para conduzir seus estudos no santuário de chimpanzés (Pan troglodytes) de Tchimpounga, administrado pelo Instituto Jane Goodall.
O primeiro experimento confirmou que os chimpanzés preferiam alimentos cozidos. Uma grande maioria desprezou a batata doce crua para provar aquelas que tinham sido refogadas. Eles estariam, então, motivados a aprender a cozinhar.
Os pesquisadores então testaram a paciência de nossos primos mais próximos. Os chimpanzés poderiam escolher entre devorar um pedaço de batata crua imediatamente ou esperar um minuto antes que pudessem desfrutar de três pedaços cozidos. Mais uma vez, os alimentos cozidos preparados venceram com folga.
Surpresa
Para as experiências seguintes, os pesquisadores usaram um aparelho "de cozimento". O recipiente em forma de tigela era equipado com um fundo falso, que escondia os alimentos cozidos.
Sob os olhos dos macacos, o experimentador introduziu batata crua na tigela e depois a agitava, e então a comida cozida aparecia. Ele fez o mesmo com uma panela que só dava batata crua.
Em seguida, os grandes macacos receberam um pedaço de batata crua. "Nós nos perguntávamos se eles seriam capazes de não comê-lo e de colocá-lo na panela", contou Alexandra Rosati.
Para sua surpresa, metade dos chimpanzés escolheu o dispositivo de cozinha que lhes dava a batata cozida, em vez de comer batata crua ou colocá-la no aparelho de controle. A prova de que eles haviam entendido que houve um processo de transformação.
Posteriormente, os chimpanzés também souberam colocar cenouras cruas no dispositivo de cozimento, e não fizeram o mesmo com um pedaço de madeira. "Eles não usaram o aparelho de cozimento de forma aleatória", ressaltou a pesquisadora.
Os chimpanzés também mostraram que podiam transportar os alimentos por alguns metros até o fogão. E alguns conseguiram pôr de lado alimentos para um cozimento posterior.
Para os autores, este estudo sugere que o último ancestral comum de homens e macacos - a divergência ocorreu há 13 milhões anos - tinha essas habilidades cognitivas para cozinhar.
E, embora as teorias atuais considerem que o homem tenha procurado controlar o fogo primeiramente para se aquecer e obter luz, os pesquisadores acreditam que cozinhar os alimentos também pode ter sido uma das suas motivações.